Contar uma história inédita já é um desafio. Recontar um clássico, então, é ainda mais difícil. O público já conhece os personagens, tem expectativas formadas e qualquer desvio pode gerar comparações ingratas. Esse foi o desafio que Robert Eggers assumiu ao dirigir Nosferatu, estrelado por Nicholas Hoult e Lily-Rose Depp – e a boa notícia é que ele cumpriu essa missão com maestria.
Livremente inspirado na história de Drácula, o longa nos transporta para a Alemanha do século XIX, onde os jovens Ellen (Depp) e Thomas Hutter (Hoult) vivem um romance intenso. Porém, um segredo sombrio do passado de Ellen ressurge quando Thomas precisa viajar para negociar uma propriedade com o enigmático Conde Orlok (Bill Skarsgård, irreconhecível sob pesada maquiagem).
Se a trama já carrega uma aura macabra, Eggers eleva ainda mais esse tom, criando uma atmosfera gótica sufocante desde os primeiros minutos. Mesmo antes da chegada de Orlok, o cenário já transmite a sensação de que algo maligno espreita na escuridão.
Elenco afiado e atuações marcantes
O elenco brilha, com destaque para Lily-Rose Depp, que entrega uma performance intensa e cheia de nuances, capturando o tormento físico e mental causado por Orlok. Sua atuação impressiona, especialmente após a polêmica série The Idol (2023).
Outro grande nome é Willem Dafoe, que, como sempre, domina a tela. Interpretando o professor von Franz, um estudioso obcecado pelo conde, Dafoe equilibra sabedoria e loucura de forma magistral. Sua presença é tão forte que, em algumas cenas, chega a ofuscar Aaron Taylor-Johnson, que acaba sendo “engolido” pelo talento do veterano ator.
Já Nicholas Hoult, apesar de competente como Thomas Hutter, tem menos espaço para brilhar. Seu personagem não possui muitas camadas e acaba ficando à sombra de Ellen e von Franz. Ainda assim, há momentos em que Hoult entrega atuações impactantes, especialmente quando enfrenta os horrores impostos por Orlok.
O Conde Orlok e seu visual inesperado
Curiosamente, um dos pontos mais controversos do filme é a construção do próprio Nosferatu. O marketing manteve o visual da criatura em segredo, gerando grande expectativa. Bill Skarsgård entrega uma atuação sólida, mas sua versão do conde é mais humana do que grotesca, o que pode decepcionar alguns fãs. Embora funcione narrativamente – talvez para gerar certa empatia nos momentos finais –, a aparência de Orlok poderia ser ainda mais perturbadora, principalmente considerando o histórico de Eggers em criar imagens impactantes.
Um terror envolvente, respeitoso e inovador
No fim, Nosferatu entrega uma atualização elegante e perturbadora de um dos maiores clássicos do terror, capaz de arrancar sorrisos macabros dos fãs do gênero – e alguns sustos daqueles que não costumam encarar filmes de terror no escuro.