O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, tem suas raízes nas lutas femininas por melhores condições de vida, trabalho e direito ao voto, que ganharam força entre o final do século XIX e o início do século XX, nos Estados Unidos e na Europa.
A ideia de uma data dedicada às mulheres foi proposta pela líder socialista alemã Clara Zetkin, em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhagen. O objetivo era destacar a luta das trabalhadoras por seus direitos.
Após a Segunda Guerra Mundial, a data passou a ser amplamente comemorada nos países do bloco comunista. Foi nessa época, mais precisamente em 1955, que surgiu um mito popular: a ideia de que o 8 de março teria sido inspirado em uma greve de operárias têxteis em Nova York, em 1857, brutalmente reprimida ou marcada por um incêndio criminoso. No entanto, não há registros históricos que confirmem esse evento. Segundo as autoras francesas Liliane Kandel e Françoise Picq, essa narrativa surgiu durante a Guerra Fria, quando feministas francesas buscavam dissociar a celebração de suas origens socialistas.
Hoje, o Dia Internacional da Mulher continua sendo um momento de reflexão e luta, relembrando as conquistas do passado e os desafios que ainda precisam ser superados.
Mulheres que Ficaram na História
Maria de Nazaré
Maria, a mãe de Jesus, é uma das figuras femininas mais importantes da história. Segundo a tradição católica, acredita-se que ela tenha nascido em 8 de setembro, data celebrada pela Igreja como sua Natividade.
De acordo com relatos de Inácio de Antioquia, Santo Irineu, São Justino e Tertuliano, Maria pertencia à linhagem do rei Davi. Essa ascendência também é mencionada em evangelhos apócrifos, como o Evangelho do Nascimento de Maria e o Protoevangelho de Tiago. Além disso, uma antiga tradição do século II afirma que seus pais eram São Joaquim, descendente de Davi, e Sant’Ana, da linhagem do sacerdote Aarão.
A mais antiga oração mariana conhecida, Sub Tuum Praesidium (“Sob Vossa Proteção”), data do início do século II e foi redescoberta em um papiro no Egito em 1917.
Após o Édito de Milão, em 313, a veneração a Maria cresceu ainda mais. Imagens suas começaram a aparecer em maior número, e igrejas foram dedicadas a ela, como a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Sua figura segue sendo símbolo de fé, devoção e inspiração para milhões de pessoas ao longo dos séculos.
Joana d’Arc
Joana d’Arc era apenas uma jovem camponesa de 17 anos, pobre e analfabeta, quando decidiu mudar o destino da França. Movida pela fé, convenceu um pequeno grupo de soldados a segui-la e, contra todas as probabilidades, conseguiu algo impensável: a autorização real para liderar um exército de cerca de 7 mil homens e libertar a cidade de Orleans do cerco inglês.
Após a Revolução Francesa, sua história foi resgatada pelo partido monárquico como símbolo de lealdade ao rei. Com o romantismo, Joana se tornou uma inspiração literária, sendo homenageada pelo historiador Jules Michelet e pelo dramaturgo alemão Friedrich Schiller, que escreveu a peça Die Jungfrau von Orléans (A Virgem de Orleans) em 1801.
Em 1870, após a derrota da França para a Alemanha e a ocupação da Alsácia e Lorena, Joana d’Arc foi elevada a heroína nacional e um ícone do patriotismo francês. Sua coragem e determinação continuam a inspirar gerações.
Marie Curie
Marie Curie nasceu em 7 de novembro de 1867, na Polônia, e desde cedo demonstrou um talento excepcional para os estudos. No entanto, foi impedida de ingressar no ensino superior por ser mulher. Sem se deixar abalar, lutou contra o preconceito e tornou-se uma das maiores cientistas da história.
Foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a única pessoa a receber dois em áreas distintas: Física e Química. Seu legado inclui a teoria da radioatividade (termo criado por ela), o isolamento de isótopos radioativos e a descoberta de dois novos elementos: polônio e rádio.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Marie levou sua ciência ao campo de batalha, fundando os primeiros centros móveis de radiologia para atender os soldados feridos. Seu trabalho revolucionou a medicina e a física, e seus institutos de pesquisa, em Paris e Varsóvia, seguem ativos até hoje.
Mata Hari
Mata Hari ficou conhecida tanto por sua dança exótica quanto por sua suposta atuação como espiã durante a Primeira Guerra Mundial. Posando como uma princesa javanesa, a holandesa Margaretha Geertruida Zelle encantava plateias com suas performances ousadas e teve romances com militares e políticos influentes.
Sua vida tomou um rumo sombrio em 1917, quando foi acusada de espionagem e de atuar como agente dupla para França e Alemanha. Julgada na França, foi considerada culpada e fuzilada em 15 de outubro do mesmo ano. Até hoje, historiadores debatem se ela realmente era uma espiã ou apenas um bode expiatório.
Mary Seacole
Enfermeira jamaicana de espírito destemido, Mary Seacole se destacou por sua bravura durante a Guerra da Crimeia. Sem apoio formal, fundou o British Hotel, onde oferecia cuidados médicos e abrigo para soldados doentes e feridos. Diferente de Florence Nightingale, ela não hesitava em ir diretamente para o campo de batalha para resgatar os feridos, independentemente de qual lado estivessem lutando.
Apesar de seus feitos notáveis, Mary enfrentou preconceito e teve dificuldades para ser reconhecida. Sua história só começou a ganhar notoriedade em 1973, com a redescoberta de sua autobiografia Wonderful Adventures of Mrs. Seacole in Many Lands, uma das primeiras escritas por uma mulher negra.
Florence Nightingale
Enfermeira britânica e pioneira nos cuidados a feridos de guerra na Crimeia, ficou conhecida como “A Dama da Lâmpada”. Fundou a primeira escola secular de enfermagem e revolucionou a saúde pública ao introduzir práticas sanitárias e estatísticas médicas. Seu legado inclui o Juramento Nightingale e o Dia Internacional da Enfermagem.
Maria Quitéria de Jesus
Primeira mulher a lutar pelo Brasil, se disfarçou de homem para se alistar na Guerra da Independência. Sua bravura garantiu reconhecimento de Dom Pedro I e a inclusão de seu nome na história militar do país. É homenageada em medalhas e monumentos na Bahia.
Irmã Dulce
Religiosa brasileira, conhecida como o “Anjo Bom da Bahia”, dedicou a vida a ajudar os pobres. Fundou o Hospital Santo Antônio e diversas obras sociais, que hoje atendem milhares de pessoas. Foi canonizada em 2019.
Valentina Tereshkova
Primeira mulher no espaço, em 1963, representou o ideal soviético. Operária e paraquedista amadora, entrou para o programa espacial e inspirou gerações de mulheres na ciência e tecnologia.
Maria da Penha
Símbolo da luta contra a violência doméstica, sobreviveu a uma tentativa de feminicídio e deu nome à Lei Maria da Penha (2006), que protege mulheres no Brasil.
Chiquinha Gonzaga
Primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, compositora e ativista. Criou o primeiro Carnaval de marchinhas e lutou pela abolição da escravidão.
Carmen Miranda
Cantora e atriz luso-brasileira que conquistou Hollywood e levou a cultura brasileira ao mundo. Foi a primeira sul-americana a ter uma estrela na Calçada da Fama.
Essas mulheres desafiaram as normas de suas épocas, enfrentaram preconceitos e deixaram um legado que continua a inspirar gerações. Seja na ciência, na arte, na política, no ativismo ou na luta pela liberdade, cada uma delas provou que a coragem e a determinação podem mudar o mundo. Suas histórias nos lembram que o caminho para a igualdade e o reconhecimento ainda é longo, mas possível – e que, assim como elas, cada um de nós pode deixar sua marca na história.